Já haviam passado-se 9 anos desde aquela tarde; Rivka voltava da escola, e, no ônibus, pensava no pai.
Aonde será que ele está? Como será o fim do ser humano? Em um caixão, a redenção divina? Depois da morte do pai e da fuga com a mãe de Gaza, Rivka deixou de acreditar nos livros sagrados de seu povo, nos livros sagrados de qualquer povo. Morava agora num país onde aquele que se dizia Messias sem realmente o ser - como seu avô dizia quando ela ainda era pequena - era cultuado e louvado como filho de Deus. Rivka gostava de entrar nesses templos, na maioria uns extremamente antigos, cheios de ouro e adornos à volta dos fiéis. Gostava de analizar também as reações emocionais dos frequentadores, como ouviam as missas em latim, como se benziam ou comiam um pedaço de pão o qual o sacerdote chamava de ''carne de Deus''.
À noite também gostava de fugir e ir à noite nas margens do bairro onde vivia, onde um grupo de negros cantavam aquele novo estilo de música vindo da América chamado Jazz. O padre dizia que era pecado, mas o grupo de americanos também cantavam louvores ( ao mesmo Deus ), e Rivka cria que aquele era o mais verdadeiro modo de festejá-Lo. Também visitou escondida um grupo de negros mas não americanos, de religião esquisita, quase tribal, que cultuavam os mortos. Quisera entrar no grupo e perguntar do seu pai, mas lembrou-se do aviso de sua mãe: Ninguém pode saber quem somos, filha. Não que sejamos gente importante, mas seu pai foi morto por pessoas que não gostariam de saber que nós ainda estamos vivas, dizia. Continuava sem entender exatamente o motivo pelo qual seu pai foi morto - lera umas cartas antigas onde o pai dizia o absurdo que era obrigado a fazer. Não gostava de matar árabes e falava da corrupção por trás do governo de Israel, e como era insuportável para ele ter a família morando fora do território judeu no meio do campo de guerra junto com outras famílias de soldados. Agora Rivka percebia que talvez o medo da denúncia fez com que os inimigos de seu pai colocassem a bomba no quarto dele no dia de seu retorno - afinal, bomba é a coisa mais facilmente associável à palestinos.
Saltara do ônibus.
- Olá Aharon.
-Olá irmã.
Aharon conservava o mesmo ar que sempre teve: os olhos cor-de-mel, extremamente expressivos, a fitavam com o mesmo carinho de sempre. Ela nunca entendeu exatamente o porquê, mas estar ao lado de seu irmão era a maior fortaleza do mundo - sentia-se finalmente segura.
Ele mantinha o corte de cabelo de sempre, parecido com o pai: cabelo nem grande, nem curto, nem certinho ou assimétrico: único, que caia sobre os olhos e ele o tirava com o mesmo gesto que Ravid tinha: puxava para trás com apenas a ponta dos dedos. Tinha o queixo e sobrancelhas fortes, marcantes; E agora dera para usar uma argola numa das orelhas. Em um dos ombros definidos carregava uma bolsa cheia de livros e projetos; viera à Portugal para estudar engenharia, acabou se apaixonando por antropologia, mas continuava a desenhar prédios e pontes futuristas. Rivka achava curioso o fato de seu irmão estudar pessoas, porém achava mais útil do que outros vários cursos. Aharon já era formado nas duas faculdades que cursara em Lisboa: Antropologia e Filosofia, que também era meio estranho de entender. Seu irmão estudava gente e estudava o estudar do estudar dessa gente. Nobre. Trabalhava numa organização estranha, que ajudara a depor Salazar dois anos antes. Tinha uns projetos secretos também, que sussurrava com amigos e fortuitamente trocavam bilhetes em livros ou dentro de sanduiches e outros lugares improváveis. Rivka não tinha a capacidade de perceber a grandeza da ousadia política de seu irmão; mas sentia em seu íntimo um grande respeito pelo que não entendia em seu fraterno.
(a terminar)
Monday, 4 October 2010
Friday, 1 October 2010
Erros e acertos

Como é fácil para o ser humano invadir os espaços uns dos outros. É impossível embarreirar nosso território, seja mental ou emocional, sempre aparecerá alguém pronto a tentar mexer no nosso espaço interno, e modifica-lo ao bel prazer do ditador de sentimentos.
Agora, e quando nós somos esses invasores? Quando nós causamos dor, mágoa, receio, ciúme, coisas tão instintivas que ficam arraigadas no ser influenciado. Quando nós invadimos o coração de alguém quase que sem querer, lenta ou abruptamente, e simplesmente soa impossível sair dessa pessoa, do seu EU. Somos o estopim da mudança, ou a certeza da calmaria e acomodação.
Idolatria. Isso nos joga dentro de uma pessoa. Isso faz com que ela te veja num patamar acima do que propriamente o dela, e torna com que tudo o que ela faça seja para agradar-te.
Desejo. Isso nos joga dentro de uma pessoa. Faz com que elas monopolizem o canal de vontade e você mais uma vez domina seu quadro mental.
Medo. Isso nos joga dentro de uma pessoa. Você passa a ser o pior pesadelo, e, fugindo de ti, você não sai de sua cabeça.
Amor. Isso não nos joga dentro de uma pessoa. Isso nos tira de nós mesmos.
Wednesday, 29 September 2010
à medida que os outros nos conquistam - 2
O tempo tinha parado, e descolando-se dos suados braços do seu pai, o olhos nos olhos.
- Bem vindo de volta, papai. Que sentimento estranho! O pai a acompanhou, enquanto ela a puxava pelo braço com força. - Tenho um presente para você, vem.
- Espera; tenho um para você também. - O pai soltou o braço e voltou ao canto do quintal onde estava sua bagagem: duas mochilas e uma caixa vazada, que se mexia. Ravid levantou e abriu a caixa, tirando uma bola peluda de dentro e voltou para perto da filha e da esposa. - Você escolhe o nome.
Era um cachorro aquilo? O animal olhou para a dona e bocejou, espreguiçando-se a fazendo uns ruidinhos fofos. Mal cabia nas mãos de Ravid. Amira o pegou no colo.
- É ele ou ela?
-Ele. Escolhe um nome.
Rivka pensou, pensou, e não conseguiu decidir um nome para o cão. - Ainda não tem nome, disse, levando-o pra dentro de seu quarto. Colocou-o em cima de sua cama, mas ficou com medo dele cair, então dobrou uma coberta no chão e o pos em cima. - Vê se não faz xixi aí, hein!
Voltou à sala e viu os pais dando um beijo. Estranhos, os adultos. Ao vê-la, pararam e a chamaram para sentar entre os dois.
- Aonde está?
- Coloquei no quarto - respondeu, apoiando-se no ombro do pai. Ele estava realmente mais fraco do que o vigoroso homem que partiu há dois anos. Erelah saiu para pegar a bagagem do marido, deixando os dois a sós. - Fiz um presente para você - disse mostrando o caderno desenhado. O pai segurou o livrinho, folheando, vendo os desenhos e as poucas palavras que estavam aleatoriamente escritas nas páginas.
- Que bonito, filha. Obrigada.
-É para você me ajudar a escrever nele também... Você sabe que ainda não sei direito. Mas agora que você voltou...
- Rivka, temos que conversar sobre isso. - o pai pigarreou e passou os dedos no cabelo cerrado. Um gesto que Amira tinha se esquecido. Ele fazia isso quando ainda tinha cabelos longos. - O papai sentiu muito sua falta. Estive esse tempo a poucos quilometros de casa, mas não podia vir ver-te, e não tem telefone por lá. A situação é complicada, coisas que sua cabeça ainda não entende, mas um dia você entenderá. Querem que eu volte daqui a um mês, mas eu não quero ir, e nem vou - acrescentou, ao notar um evidente olhar de protesto. - Nós vamos sair daqui. Já falei com amigos meus na embaixada, por isso demorei a chegar agora. Sei que você deve ter algumas amizades por aqui, ainda mais que você voltou à escola, mas é um mal necessário. Você entenderá - ajeitou-se no sofá para olhá-la mais nos olhos.
- Vamos para perto do meu irmão? - perguntou.
-Sim, é a minha ideia. Seu irmão continua estudando na Europa, lá é bem mais seguro para nós. Eu... - hesitou. - Eu fiz muita coisa errada. Acreditei que estava fazendo o certo, mas vivi dois anos uma mentira. - o pai continuou a olhar fixamente para a filha, esperando uma resposta. Rivka assentiu.
- Tudo bem.
-Mesmo?
-Mesmo. Vou sentir falta do deserto.
Ravid sorriu. Ele também.
Sem Nome começou a latir no quarto. Rivka estranhou o ruído, lembrou do animal, e perguntou ao pai:
- E ele, vai junto?
-Sim, claro. Agora ele faz parte da família também. Vá cuidar do seu filhote, vá.
Ela levantou-se e foi correndo ao quarto. Ele tinha sumido! E tinha feito xixi no cobertor. Foi correndo atrás de seu rastro. Estava no canto do quarto da mãe, cheirando um objeto estranho. Rivka o pegou no colo e foi até onde seus pais estavam.
-Mãe, o que era aquilo do lado da sua cama?
-O que, filha?
-Não sei, parece um relógio, tipo uma bolsa. - afagando Sem Nome.
Seu pai a olhou cheio de pavor; puxou as duas com força gritando "Corram!" e foi até o quarto. A mãe correu com a filha, até o outro lado do quintal, a abraçando. Rivka, sem entender, absolutamente nada, seguiu Erelah de perto. Parou, enquanto a mãe ainda corria e tentava abrir o portão, fechou os olhos e sentiu uma dor tão forte, tão forte, que esqueceu aonde estava, não reparou que deixou cair um cachorro de semanas no chão, que ganiu com o impacto. Gritou.
No mesmo segundo, ouviu um forte barulho de dentro da casa; uma lufada de ar quente a empurrou ao chão, enquanto sua mãe à distância gritava seu nome. Antes de ter os olhos fechados viu cacos de coisas à volta, um pedaço de sofá, um pedaço de parede, um pedaço de gente. Sentiu as costas arderem e uma dor inexplicável. Depois não sentiu nada.
- Bem vindo de volta, papai. Que sentimento estranho! O pai a acompanhou, enquanto ela a puxava pelo braço com força. - Tenho um presente para você, vem.
- Espera; tenho um para você também. - O pai soltou o braço e voltou ao canto do quintal onde estava sua bagagem: duas mochilas e uma caixa vazada, que se mexia. Ravid levantou e abriu a caixa, tirando uma bola peluda de dentro e voltou para perto da filha e da esposa. - Você escolhe o nome.
Era um cachorro aquilo? O animal olhou para a dona e bocejou, espreguiçando-se a fazendo uns ruidinhos fofos. Mal cabia nas mãos de Ravid. Amira o pegou no colo.
- É ele ou ela?
-Ele. Escolhe um nome.
Rivka pensou, pensou, e não conseguiu decidir um nome para o cão. - Ainda não tem nome, disse, levando-o pra dentro de seu quarto. Colocou-o em cima de sua cama, mas ficou com medo dele cair, então dobrou uma coberta no chão e o pos em cima. - Vê se não faz xixi aí, hein!
Voltou à sala e viu os pais dando um beijo. Estranhos, os adultos. Ao vê-la, pararam e a chamaram para sentar entre os dois.
- Aonde está?
- Coloquei no quarto - respondeu, apoiando-se no ombro do pai. Ele estava realmente mais fraco do que o vigoroso homem que partiu há dois anos. Erelah saiu para pegar a bagagem do marido, deixando os dois a sós. - Fiz um presente para você - disse mostrando o caderno desenhado. O pai segurou o livrinho, folheando, vendo os desenhos e as poucas palavras que estavam aleatoriamente escritas nas páginas.
- Que bonito, filha. Obrigada.
-É para você me ajudar a escrever nele também... Você sabe que ainda não sei direito. Mas agora que você voltou...
- Rivka, temos que conversar sobre isso. - o pai pigarreou e passou os dedos no cabelo cerrado. Um gesto que Amira tinha se esquecido. Ele fazia isso quando ainda tinha cabelos longos. - O papai sentiu muito sua falta. Estive esse tempo a poucos quilometros de casa, mas não podia vir ver-te, e não tem telefone por lá. A situação é complicada, coisas que sua cabeça ainda não entende, mas um dia você entenderá. Querem que eu volte daqui a um mês, mas eu não quero ir, e nem vou - acrescentou, ao notar um evidente olhar de protesto. - Nós vamos sair daqui. Já falei com amigos meus na embaixada, por isso demorei a chegar agora. Sei que você deve ter algumas amizades por aqui, ainda mais que você voltou à escola, mas é um mal necessário. Você entenderá - ajeitou-se no sofá para olhá-la mais nos olhos.
- Vamos para perto do meu irmão? - perguntou.
-Sim, é a minha ideia. Seu irmão continua estudando na Europa, lá é bem mais seguro para nós. Eu... - hesitou. - Eu fiz muita coisa errada. Acreditei que estava fazendo o certo, mas vivi dois anos uma mentira. - o pai continuou a olhar fixamente para a filha, esperando uma resposta. Rivka assentiu.
- Tudo bem.
-Mesmo?
-Mesmo. Vou sentir falta do deserto.
Ravid sorriu. Ele também.
Sem Nome começou a latir no quarto. Rivka estranhou o ruído, lembrou do animal, e perguntou ao pai:
- E ele, vai junto?
-Sim, claro. Agora ele faz parte da família também. Vá cuidar do seu filhote, vá.
Ela levantou-se e foi correndo ao quarto. Ele tinha sumido! E tinha feito xixi no cobertor. Foi correndo atrás de seu rastro. Estava no canto do quarto da mãe, cheirando um objeto estranho. Rivka o pegou no colo e foi até onde seus pais estavam.
-Mãe, o que era aquilo do lado da sua cama?
-O que, filha?
-Não sei, parece um relógio, tipo uma bolsa. - afagando Sem Nome.
Seu pai a olhou cheio de pavor; puxou as duas com força gritando "Corram!" e foi até o quarto. A mãe correu com a filha, até o outro lado do quintal, a abraçando. Rivka, sem entender, absolutamente nada, seguiu Erelah de perto. Parou, enquanto a mãe ainda corria e tentava abrir o portão, fechou os olhos e sentiu uma dor tão forte, tão forte, que esqueceu aonde estava, não reparou que deixou cair um cachorro de semanas no chão, que ganiu com o impacto. Gritou.
No mesmo segundo, ouviu um forte barulho de dentro da casa; uma lufada de ar quente a empurrou ao chão, enquanto sua mãe à distância gritava seu nome. Antes de ter os olhos fechados viu cacos de coisas à volta, um pedaço de sofá, um pedaço de parede, um pedaço de gente. Sentiu as costas arderem e uma dor inexplicável. Depois não sentiu nada.
à medida que os outros nos conquistam - 1

Já eram dez horas da manhã e nada dele chegar. Rivka estava com o rosto sobre um dos braços, debruçada sobre a janela, sonolenta. As vezes seus olhos se fechavam, devagar, mas ao primeiro ruido de carro na rua ela levantava a cabeça ansiosa, procurando a fonte do som com o mais bonito olhar de esperança. Não, não é o papai.
Já fazia tanto tempo que não o via! Quase um terço da vida dela. Voltou à escola, e agora estava finalmente aprendendo a ler e fazer contas. No período da guerra passava o dia inteiro trancada no fundo da casa, com sua mãe chorosa a abraçando dizendo que tudo ia ficar bem, que o pai ia ficar bem, que estando ele lutando perto era mais fácil das notícias chegarem do que se ele estivesse do outro lado do planeta. A menina não entendia, porém percebia que tinha que ter uma postura de força, mais até do que a mãe, que era mais instável do que devia numa situação daquelas. Mas já se passaram meses daqueles dias duros, e ela esperava eufórica o momento de escrever seu próprio nome e o nome de seu pai no caderno que ela decorara para os dois se divertirem.
Estava com sete anos; o pai, Ravid, partira quando ela tinha cinco. Lembrava-se dele vagamente, mas estas vagas lembranças carregavam uma forte emoção. Eram cenas mentais distintas: ele perto do balanço onde ela brincava, fumando um cigarro no canto da boca e sorrindo com a outra metade do lábio. Ela espionando os dois na cozinha: ele e a mãe Erelah brincando e dando beijos enquanto faziam um bolo de chocolate, o pai passando a espátula na boca da esposa e roubando mais beijos, em meio a risos e olhares furtivos à porta. O momento que ele partiu, deixando a mochila militar cair no chão para dar um último abraço na filha.
Não entendia essas guerras, essas brigas de gente grande. Demorou vários meses para se dar conta que seu pai corria risco de vida. Não entendia direito o que era vida ou morte, nem quando seu avô morreu ela percebeu a importância que os adultos dão a essa passagem. Também não sabia direito o que seu pai fazia na guerra, e uma vez um menino árabe disse que seu pai matava pessoas, e ela não acreditou. Faris era o nome do menino. Era um órfão, segundo sua mãe, que foi adotado na missão e lá vivia, alguns anos mais velho que a própria Rivka. Ela percebia que os outros meninos evitavam andar com ele, mas o árabe não se importava. Carregava aquele ar dos adolescentes, marrento, vivia resmungando e chutando pedras e outras coisas pelo caminho. Tinha os ombros pesados, tinha as roupas sujas e surradas, surgia e sumia do nada pelas vielas do bairro judeu. Uma vez a menina tentou cumprimentá-lo, ele a olhou friamente e lançou o duro comentário sobre seu pai e sua raça , a que chamou de "nação de assassinos". Não entendia direito o que significava a palavra raça ou nação, ou porque eles dois eram diferentes em raça apesar dos mesmos traços. Perguntara a sua mãe, e ela disse " Nossa família, Rivka, a nossa e a de todos nesse bairro são abençoados, escolhidos por Deus, somos o povo dele", o que a fez perguntar-se também se isso significava que ela, tão frágil e pequena, era melhor do que o menino de densas sobrancelhas que a espiava quando ia à escola. Um dia ele sumiu; e sua mãe disse que tinha fugido do bairro protegido e foi morto. A morte, novamente, incompreensível.
Um ruído, o pai ! Ouviu o choro da mãe ao abrir a porta e abraçar o homem que acabara de chegar. Aquele é seu pai? Parecia tão mais imponente quando partiu! Agora era um desconhecido magro, com aparência de doença, olheiras profundas sob um dos olhares mais tristes que já vira naquele lugar castigado pela dor. Rivka foi até a porta também, agarrada ao bichinho de pelúcia que ganhara do pai na sua ausência, por correio, no seu aniversário de seis anos. Ravid a olhou, os olhos cheios de água; viu o brinquedo em sua mão, abriu um sorriso tímido e os braços. A filha finalmente sentiu que sim, aquele era o herói de que tanto sentia falta, correu para o abraço, e descobriu o significado da palavra saudade.
Já fazia tanto tempo que não o via! Quase um terço da vida dela. Voltou à escola, e agora estava finalmente aprendendo a ler e fazer contas. No período da guerra passava o dia inteiro trancada no fundo da casa, com sua mãe chorosa a abraçando dizendo que tudo ia ficar bem, que o pai ia ficar bem, que estando ele lutando perto era mais fácil das notícias chegarem do que se ele estivesse do outro lado do planeta. A menina não entendia, porém percebia que tinha que ter uma postura de força, mais até do que a mãe, que era mais instável do que devia numa situação daquelas. Mas já se passaram meses daqueles dias duros, e ela esperava eufórica o momento de escrever seu próprio nome e o nome de seu pai no caderno que ela decorara para os dois se divertirem.
Estava com sete anos; o pai, Ravid, partira quando ela tinha cinco. Lembrava-se dele vagamente, mas estas vagas lembranças carregavam uma forte emoção. Eram cenas mentais distintas: ele perto do balanço onde ela brincava, fumando um cigarro no canto da boca e sorrindo com a outra metade do lábio. Ela espionando os dois na cozinha: ele e a mãe Erelah brincando e dando beijos enquanto faziam um bolo de chocolate, o pai passando a espátula na boca da esposa e roubando mais beijos, em meio a risos e olhares furtivos à porta. O momento que ele partiu, deixando a mochila militar cair no chão para dar um último abraço na filha.
Não entendia essas guerras, essas brigas de gente grande. Demorou vários meses para se dar conta que seu pai corria risco de vida. Não entendia direito o que era vida ou morte, nem quando seu avô morreu ela percebeu a importância que os adultos dão a essa passagem. Também não sabia direito o que seu pai fazia na guerra, e uma vez um menino árabe disse que seu pai matava pessoas, e ela não acreditou. Faris era o nome do menino. Era um órfão, segundo sua mãe, que foi adotado na missão e lá vivia, alguns anos mais velho que a própria Rivka. Ela percebia que os outros meninos evitavam andar com ele, mas o árabe não se importava. Carregava aquele ar dos adolescentes, marrento, vivia resmungando e chutando pedras e outras coisas pelo caminho. Tinha os ombros pesados, tinha as roupas sujas e surradas, surgia e sumia do nada pelas vielas do bairro judeu. Uma vez a menina tentou cumprimentá-lo, ele a olhou friamente e lançou o duro comentário sobre seu pai e sua raça , a que chamou de "nação de assassinos". Não entendia direito o que significava a palavra raça ou nação, ou porque eles dois eram diferentes em raça apesar dos mesmos traços. Perguntara a sua mãe, e ela disse " Nossa família, Rivka, a nossa e a de todos nesse bairro são abençoados, escolhidos por Deus, somos o povo dele", o que a fez perguntar-se também se isso significava que ela, tão frágil e pequena, era melhor do que o menino de densas sobrancelhas que a espiava quando ia à escola. Um dia ele sumiu; e sua mãe disse que tinha fugido do bairro protegido e foi morto. A morte, novamente, incompreensível.
Um ruído, o pai ! Ouviu o choro da mãe ao abrir a porta e abraçar o homem que acabara de chegar. Aquele é seu pai? Parecia tão mais imponente quando partiu! Agora era um desconhecido magro, com aparência de doença, olheiras profundas sob um dos olhares mais tristes que já vira naquele lugar castigado pela dor. Rivka foi até a porta também, agarrada ao bichinho de pelúcia que ganhara do pai na sua ausência, por correio, no seu aniversário de seis anos. Ravid a olhou, os olhos cheios de água; viu o brinquedo em sua mão, abriu um sorriso tímido e os braços. A filha finalmente sentiu que sim, aquele era o herói de que tanto sentia falta, correu para o abraço, e descobriu o significado da palavra saudade.
Tuesday, 14 September 2010
o problema é o tal do afinco. é o fato de tudo que realmente é digno de ser conquistado, deve ser provado por ti com uma perseverança jamais vista. senta, cala a boca e estuda. droga, tava tão bom aqui.....
sonhar é muito fácil, assim como desejar que as coisas nos venham de bandeja. nada na vida vem fácil, e eu já estou velha o suficiente para me dar conta disso. e acredita que ainda não me dei?
tenho que estudar música, iluminação, história, filosofia, inglês, astrologia, e todas essas outras coisas que eu primo por exibir como conhecimentos. sei porra nenhuma. tenho que aprender ainda. ter uma vaga noção não quer dizer que eu de fato saiba. não me exijo ser uma expert, mas o mínimo é bom, né.
me obriguem a estudar?
sonhar é muito fácil, assim como desejar que as coisas nos venham de bandeja. nada na vida vem fácil, e eu já estou velha o suficiente para me dar conta disso. e acredita que ainda não me dei?
tenho que estudar música, iluminação, história, filosofia, inglês, astrologia, e todas essas outras coisas que eu primo por exibir como conhecimentos. sei porra nenhuma. tenho que aprender ainda. ter uma vaga noção não quer dizer que eu de fato saiba. não me exijo ser uma expert, mas o mínimo é bom, né.
me obriguem a estudar?
Monday, 30 August 2010
preciso precioso
Ele vive em uma dimensão paralela onde tudo e todos o rejeitam, e nisso ele busca e escora-se em qualquer companhia ou ser que lhe dê a devida ateñção. Ele tem medo de perder o mais precioso que possui, mesmo que isso custe sua própria personalidade forte, porém falha, pois ele perde tempo em preencher lacunas dispensáveis. Busca o tempo todo se ocupar não de coisas que o enobrece, mas de coisas que o faça interessante. Mas seu bem mais precioso reconhece isso nele, principalmente seu esforço. É uma pena amante, uma agonia calentosa. Uma dor fugaz e ao mesmo tempo confortante.... Mas seu precioso sabe que o vazio nada mais é do que a ausência de alguma coisa.
Monday, 23 August 2010
Estuans Interius
Estuans interius
ira vehementi
in amaritudine
loquor mee menti:
factus de materia,
cinis elementi
similis sum folio,
de quo ludunt venti.
Cum sit enim proprium
viro sapienti
supra petram ponere
sedem fundamenti,
stultus ego comparor
fluvio labenti,
sub eodem tramite
nunquam permanenti.
Feror ego veluti
sine nauta navis,
ut per vias aeris
vaga fertur avis;
non me tenent vincula,
non me tenet clavis,
quero mihi similes
et adiungor pravis.
Mihi cordis gravitas
res videtur gravis;
iocis est amabilis
dulciorque favis;
quicquid Venus imperat,
labor est suavis,
que nunquam in cordibus
habitat ignavis.
Via lata gradior
more iuventutis,
inplicor et vitiis
immemor virtutis,
voluptatis avidus
magis quam salutis,
mortuus in anima
curam gero cutis.
lindo.
lindo.
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