O ataque de Israel em águas internacionais à frota de navios que levava ajuda humanitária para a Faixa de Gaza gerou críticas de diversas nações e fez aumentar o nível de violência na região. Nesta quinta-feira, ao menos cinco palestinos foram mortos em ataques realizados por soldados israelenses.
Enquanto as Nações Unidas condenavam o ataque de ontem, no qual soldados israelenses mataram ao menos nove ativistas internacionais e feriram outras dezenas, Israel começava as deportações das centenas de presos e os milicianos palestinos tratavam de vingar às vítimas da abordagem.
Pela manhã, dois palestinos foram mortos por tropas israelenses em um tiroteio quando tentavam entrar em Israel burlando os postos de check up na altura da localidade de Khan Yunes, informaram o Exército israelense e testemunhas.
Horas mais tarde outros palestinos morreram em um ataque aéreo israelense quando se preparavam para lançar foguetes contra o território judeu a partir do norte da faixa.
A alta da violência foi motivada pelo ataque israelense ontem a uma frota de navios carregada com ajuda humanitária à Faixa de Gaza.
Os navios estavam em águas internacionais quando foram atacados por uma unidade de elite israelense. Ao menos nove ativistas, em sua maioria turcos, morreram na operação que recebeu críticas da maior parte da comunidade internacional.
Críticas rejeitadas esta tarde pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que deixou claro que continuará com o bloqueio a Gaza "por terra, ar e mar", apesar do Conselho de Segurança da ONU ter solicitado hoje o seu levantamento.
"É certo que há pressão internacional e críticas a esta política, mas o mundo deve entender que ela é crucial para preservar a segurança de Israel e o direito do Estado Judeu de defender a si próprio", disse o primeiro-ministro, horas após visitar os soldados feridos no hospital.
Israel segue sem identificar oficialmente os mortos, embora um funcionário do Ministério de Exteriores adiantou à Agência Efe que a maioria são cidadãos turcos.
O Ministério de Exteriores da Turquia anunciou que as autoridades de Israel comunicaram ao país que ao menos quatro dos seus cidadãos morreram.
O Exército israelense também mantém confiscadas as gravações de vídeo, câmaras de fotos e os telefones dos ativistas que viajavam na frota humanitária.
Por isso os únicos testemunhos visuais do ataque correspondem ao Exército israelense, que os editou e divulgou à imprensa. No entanto, alguns ativistas e meios de comunicação presentes nas embarcações conseguiram enviar algumas imagens sobre os momentos posteriores.
O Exército israelense justifica o confisco dizendo que desconhece "o que há nesses instrumentos" e que no passado encontrou "câmaras utilizadas para esconder bombas".
Enquanto isso começaram as deportações dos ativistas, cerca de meia centena, que aceitaram assinar um documento de repatriação voluntária pelo que renunciam o direito de apelação perante a justiça israelense.
Uma minoria perto dos 600 ativistas detidos que rejeitam assinar a chamada "folha de expulsão". Parte dele foi transferida para uma prisão na cidade de Beer-Sheva, no sul do país.
Abderraman Saidi, funcionário do Governo da Argélia, disse também que 124 cidadãos de países árabes que integravam a frota foram libertados na última hora e se dirigem para a Jordânia.
Entre os libertados se encontram, além de argelinos, cidadãos kuwaitianos, jordanianos e libaneses, segundo o coordenador, que também é presidente do Conselho Consultivo do Movimento da Sociedade pela Paz (MSP), formação organizadora da expedição do país norte-africano.
Fontes oficiais informaram hoje que a cineasta brasileira Iara Lee, que estava em um dos navios da frota, está bem de saúde e recebeu hoje a visita de um enviado da embaixada brasileira em Israel.
Quem recobrou a liberdade após ser interrogada foi Hanin Zoabi, a única deputada israelense que participava da frota e que teve o direito de sair graças a sua imunidade parlamentar.
Logo que saiu Zoabi, palestina com cidadania israelense, convocou uma coletiva na cidade de Nazaré. "Estava claro pelas dimensões da força com que o Exército de Israel abordou o navio que o propósito não era detê-lo, mas causar o maior número de baixas para impedir futuras iniciativas similares", acusou a deputada, que estava a bordo do navio em que ocorreram todas as mortes.
No campo diplomático e após 13 horas de negociações, o Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu uma investigação imparcial e crível do ataque e condenou de forma vaga os "atos de força" que causaram as vítimas, sem responsabilizar Israel.
Nem israelenses nem palestinos ficaram contentes com a resolução da ONU.
Para o porta-voz da diplomacia israelense, Yigal Palmor, ela é "hipócrita" e "precipitada", enquanto a voz do Governo palestino, Ghassan Khatib, a considera "insuficiente" porque não serve para "evitar que se repitam os fatos" ao não atribuir responsabilidades.
O movimento muçulmano Hamas a qualificou, por sua vez, como "débil e desequilibrada" porque "não corresponde com a gravidade do crime".
O ataque pôs o foco midiático e internacional no bloqueio a que Gaza é submetida há anos por Israel com a cooperação do Cairo.
Hoje, em meio ao clamor popular no mundo árabe e muçulmano, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, ordenou a abertura da passagem fronteiriça de Rafah, que une seu país com Gaza, para permitir a entrada de ajuda humanitária.
Agora resta ver o que vai acontecer com os outros dois navios da frota que ficaram para trás por problemas técnicos e se dispõem a chegar em breve à faixa, apesar do precedente sangrento e da advertência israelense de que também lhes cortará a passagem.
- EFE - Agência EFE.